Scroll

4 grandes tendências do mercado para 2025…

…e diversas outras que estão no foco de especialistas ouvidos pela UBC

por_Eduardo Lemos Martin de_Bath, Inglaterra

ilustracao
ilustracao
ilustracao
ilustracao
ilustracao
ilustracao
…e diversas outras que estão no foco de especialistas ouvidos pela UBC

por_Eduardo Lemos Martin de_Bath, Inglaterra

Nos últimos anos, a indústria musical tem passado por uma revolução. E essa sensação de que todas as áreas estão em franca transformação - dos direitos autorais ao marketing digital, do mercado de shows à aquisição de catálogos - não mostra sinais de arrefecimento. A entrada bombástica da inteligência artificial só deixou o futuro ainda mais interessante, para uns, ou exageradamente incerto, para outros. A UBC conversou com especialistas brasileiros para saber quais são os principais assuntos que devem ganhar os holofotes em 2025.

1. Marketing musical: uso de IA na operação e na criação de estratégias

Para Vinicius Soares, criador da agência Palco Digital - que já atendeu nomes como Luan Santana, Latino, Detonautas e Zeca Baleiro -, em 2025 artistas e times de marketing passarão a usar a IA para planejar e executar estratégias, e não apenas como apoio na criação de conteúdo, como vem acontecendo.

“Quando falamos de IA agindo a favor do profissional, a gente ainda imagina isso num nível de operação, 'ah, vamos dinamizar os processos; ao invés de ficar escrevendo textos para uma rede social, vamos pegar uma IA, que vai entender o meu discurso e construir a matriz de conteúdo'. Isso ainda está nesse nível, por enquanto. Mas, em 2025, a IA também vai ser responsável por criar um projeto de marketing musical do zero, com base no conhecimento que a IA retém das ações que o artista ou sua equipe de marketing fizeram ao longo do tempo. Um ponto que vai ser fundamental para quem for fazer marketing em 2025 são os agentes GPT - basicamente são as IAs que trabalham de maneira independente em cima de uma interação humana, acumulando conhecimento e propondo estratégias completas que compreendem desde a operação em si, até a execução.”

O especialista também vê outra tendência envolvendo IA para 2025: a utilização da ferramenta para personalizar a comunicação com o público.

Em 2025, a IA vai ser responsável por criar um projeto de marketing musical do zero, com base no conhecimento que a IA retém das ações que o artista ou sua equipe fizeram.

Vinicius Soares, criador da agência Palco Digital

“Se você tem uma base de conhecimento que te alimenta e forma também o conteúdo para interceptar o seu público de maneira direta, isso te faz ficar mais próximo dele, e a interação cresce, deixando esse público cada vez mais ‘comprador’ do artista. A gente viu em 2024 muito foco no fã, no superfã, 'pare de buscar plays isolados'. Mas, com a IA, o artista pode personalizar a sua comunicação em um nível cada vez mais íntimo. O contato com o público via IA tende a ser mais assertivo, direto ao ponto, mais quente e com um retorno maior. Isso vai ser decisivo para conquistar o público. Os times de marketing ainda são muito generalistas na comunicação. Com a IA, isso vai mudar e, no próximo ano, quem fizer bom uso da ferramenta vai romper barreiras.”

Segundo estudo publicado pelo MIDiA Research em novembro, a maior parte das gravadoras e distribuidoras “não-majors” estão gastando mais dinheiro em marketing em comparação com dois anos atrás. O uso maior de IA poderia ajudar a cortar custos. “Com esse tipo de ação que inclui agentes GPT, você acaba tendo uma redução de profissionais, como o especialista em tráfego pago e o designer para peças de redes sociais. O uso da IA é irreversível. Quem não tiver essa visão em 2025 talvez não consiga realizar bons projetos.”

Fique de olho também: apps como Instagram, TikTok e YouTube Shorts criando mais integrações com o Spotify; artistas e selos buscando formas de contato com o público fora das redes sociais; maior preocupação da indústria com a saúde mental de artistas que são obrigados a produzir conteúdo o tempo todo; TikTok cada vez mais como o grande guardião do sucesso de uma música; mais exemplos de como a realidade virtual e a realidade aumentada podem enriquecer a experiência dos shows virtuais; maior “cocriação” entre artistas e fãs através das funcionalidades de remix de plataformas como Instagram e TikTok.

2. IA no Brasil: atualização urgente da lei atual

Especialista em direito autoral, o advogado Gustavo Deppe defende regras claras e contundentes sobre o uso de IA por empresas. “O Projeto de Lei 2.338/2023 (que, até o fechamento desta edição, estava esperando votação no Plenário do Senado, depois de ser aprovado na Comissão Especial criada na Casa para debatê-lo) aborda a influência da Inteligência Artificial na sociedade brasileira, especialmente em seu uso por instituições de segurança pública e proteção de dados. Quanto ao direito autoral, traz coisas genéricas", explica.

“Nossa legislação é clara sobre a necessidade de respeitar os direitos morais e patrimoniais dos autores e titulares de direitos conexos, mas a complexidade da IA dificulta a aplicação das normas tradicionais. Não são simples utilizações não autorizadas de obras e fonogramas, mas sim criações que ultrapassam o limite da mera inspiração. O cenário não é tão animador, ao menos no que diz respeito ao curto prazo. Mas uma maneira de mitigar tantas dificuldades passa pelas associações (como UBC) e o Ecad não só intensificando a fiscalização para evitar violações, mas também educando os titulares e o público para apoiar artistas e combatê-las. Sem isso, será difícil conter os impactos negativos que governos muitas vezes veem apenas como inovações ‘benéficas’ para a sociedade.”

Deppe classifica como “preocupante” o uso comercial de obras e fonogramas por IA. “Muitos softwares são alimentados por obras sem a devida autorização e prestação de contas. O Ecad (além da UBC e de outras sociedades e entidades) já se posicionou em defesa dos direitos autorais em outubro deste ano, mas as violações são frequentes, mesmo antes de a IA demonstrar todo seu potencial", diz.

O Projeto de Lei 2.338/2023 aborda a influência da Inteligência Artificial na sociedade brasileira. Quanto ao direito autoral, traz coisas genéricas.

Gustavo Deppe, advogado especialista em direito autoral

Também há os casos de uso crescente de canções geradas por IA em ambientes públicos, de lojas a academias, substituindo as canções criadas por artistas. A gestão coletiva, atualmente, só contempla o pagamento de execução pública para pessoas humanas. “Quem seriam os titulares aptos a receber esses royalties? Como é possível a distribuição correta e justa do dinheiro gerado?”, indaga ao advogado. “São questões que ainda residem em uma zona cinzenta e um desafio gigante para todo o ecossistema de gestão coletiva brasileiro no ano que vem.”

Fique de olho também: Estados Unidos e Europa discutindo leis para proteger artistas contra o uso desregulado de IA generativa, o que deve impactar o Brasil; mais artistas do mainstream se aliando a apps como Suno e Loud.Me para gerar músicas artificialmente; músicas geradas por IA ficando mais sofisticadas; aumento do uso de blockchains e automatização para distribuição e pagamento de royalties; IA assumindo o controle na curadoria de playlists.

3. Aquisição de catálogos: diversificação de gêneros e mercados

Segundo dados da Luminate, em 2023, faixas não consideradas lançamentos foram responsáveis por 73% dos ganhos com streaming nos Estados Unidos. Se tem mais gente ouvindo música “velha” do que nova, é mais provável que o negócio de compra e venda de catálogos continue a prosperar. Um bom exemplo aconteceu em outubro, quando a mídia britânica noticiou que o Pink Floyd teria fechado um acordo com a Sony para vender seu catálogo musical, nome e imagem por cerca de 400 milhões de dólares.

“Nos últimos anos, a aquisição de catálogos por parte de grupos de investimento tornou-se uma tendência significativa. Esse movimento é impulsionado pelo aumento das receitas da indústria fonográfica, especialmente através da monetização de fonogramas em plataformas de streaming. Agentes de mercado como Iconoclast e Hipgnosis, e fonográficos como Universal Music e Sony Music, têm apostado fortemente na compra de catálogos, antevendo o crescimento do setor musical nos próximos anos. E artistas como Bruce Springsteen, Red Hot Chili Peppers e Shakira venderam seus catálogos", explica o analista de mercado e pesquisador Leo Morel.

Agentes passarão a dar atenção a catálogos da América Latina e Ásia por serem regiões com taxas de crescimento superiores.

Leo Morel, pesquisador do mercado musical

O que deve acontecer mais em 2025 é a diversificação desses negócios, que deixarão de olhar somente para os grandes nomes de gêneros musicais estabelecidos e mirar em “catálogos subvalorizados”:

“O consumo musical está se tornando cada vez mais segmentado, levando os investidores a buscar catálogos subvalorizados, em gêneros como EDM, música latina e asiática. Essa estratégia reflete uma nova abordagem de investimento que se alinha às mudanças nas preferências dos ouvintes e às oportunidades emergentes no mercado.”

No ano que vem, os investimentos em catálogos também devem acontecer com mais frequência fora dos Estados Unidos e Europa. “Acredito que esses agentes passarão a dar atenção a catálogos da América Latina e Ásia por serem regiões que estão apresentando taxas de crescimento superiores às observadas em países desenvolvidos", analisa Morel.

Fique de olho também: Investidores utilizando uma grande análise de dados antes de fazer uma aquisição de catálogo, através de IA e aprendizado de máquina; evolução dos NFTs relacionados a catálogos de música, possivelmente incluindo propriedade fracionada de ações do catálogo ou direitos exclusivos vinculados a músicas ou álbuns específicos; consolidação dos direitos autorias nas mãos de um grupo cada vez menor.

4. Pagamento no streaming em 2025: um olho nos números, outro na proteção do artista

O debate em torno de um modelo mais justo de remuneração no streaming já foi mais quente, mas deverá ser uma das principais preocupações da indústria em 2025, segundo Anita Carvalho, diretora do Music Rio Academy e empresária artística.

“Essa conversa tende a se intensificar, considerando que o mercado e o consumo estão se transformando, e as próprias plataformas digitais ainda estão em evolução. A gente tem aí os dois modelos postos, o market-centric e o user-centric, que devem passar por uma revisão mais crítica em 2025. Eu, particularmente, tendo a achar o user-centric mais justo, na medida em que ele valoriza um artista menor, que tem uma base mais fiel, mas acredito que ainda não encontramos um modelo que viabilize a recuperação do investimento no fonograma pelo consumo do digital. Hoje, uma das únicas formas de recuperar esse investimento é com o show, o que pra mim é uma distorção do mercado, já que uma fonte de receita deveria ser compatível com a geração daquele ativo", diz.

Ainda não encontramos um modelo que viabilize a recuperação do investimento no fonograma pelo consumo do digital.

Anita Carvalho, diretora do Music Rio Academy

Carvalho também chama a atenção para um dos pontos mais negligenciados quando se fala de novos modelos de remuneração no digital: a saúde mental dos artistas independentes ou que não são superestrelas, profissionais cujos ganhos com o streaming são irrisórios.

“Em 2025, precisaremos discutir a valorização da diversidade, a descentralização do consumo e a garantia de condições de trabalho adequadas para essa classe musical, que venham impulsionar a adoção de um modelo de remuneração que priorize o bem-estar dos criadores. No mundo ideal, a gente deve avançar para um sistema mais holístico, que considere não só os meios financeiros, mas também o impacto cultural e social da música. Acredito que isso possa entrar na pauta dessas discussões sobre o pagamento no streaming", explica.

A especialista crê que a tecnologia blockchain “pode ganhar força, uma vez que ela garante mais transparência nas transações de royalties", e que outros temas devem influenciar a discussão sobre os modelos de remuneração. Ela cita como exemplos a mudança no comportamento dos consumidores e das regulações governamentais. Em 2024, os Estados Unidos começaram a discutir uma espécie de “salário mínimo” para músicos, e a França começou a cobrar uma taxa das plataformas musicais, com o dinheiro arrecadado sendo revertido para associações de promoção da música do país.

Fique de olho também: plataformas criando modelos de remuneração baseados em assinaturas personalizadas, e não apenas oferecendo as opções como grátis e premium; plataformas abrindo novas formas de o usuário remunerar seus artistas preferidos, como acesso a músicas exclusivas e pré-venda de discos, em uma aproximação ao modelo do Patreon; artistas buscando diversificar suas fontes de arrecadação em plataformas como o Substack; plataformas experimentando modelos de pagamento que levam em conta não apenas o número de plays de um artista, mas também a qualidade de seu engajamento com a audiência; investimento em tecnologia para prevenir fraudes em números de plays, especialmente vindo das empresas que operam no modelo market-centric

Next
Next